domingo, 20 de novembro de 2011

Se, por um instante ...



 
Se, por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria, tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que elas valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos perdermos sessenta segundos de luz. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo como minha alma. Deus meu, se tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas. Deus meu, se tivesse um pedaço de vida. Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas te amo, te amo!!! E viveria enamorado de amor. Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecemos quando deixamos de nos apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, homens. Aprendi que todo mundo quer viver no alto da montanha sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que, quando um recém-nascido aperta com sua mão pela primeira vez o dedo do seu pai, o tem prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo se for para ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês mas - que pena - não poderão servir muito porque quando olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo.


Este texto, atribuído A Gabriel Garcia Marquez



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