quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CASAMENTO NA IGREJA

   Tem gente que acha careta, tem gente que acha um luxo. A verdade é que ninguém é indiferente a uma cerimônia de casamento realizada na igreja, com direito a tapete vermelho, marcha nupcial, véu e grinalda. A maioria das garotas sonha com esse momento, o de ser entregue ao noivo pelas mãos do pai e de vestido branco, mesmo que essa simbologia tenha perdido o significado. Os futuros cônjuges podem estar dividindo o mesmo teto há meses e até ter um filhinho, quem se importa? A verdade é que casamento na igreja é um rito de passagem, um momento de bênção e de satisfação à família, aos amigos e à sociedade. O amor pode prescindir desse ritual todo, mas um pouco de pompa e circunstância não faz mal a ninguém. 

Já que o casal optou pelo sacramento do matrimônio e quer fazê-lo diante de Deus, o mais seguro é não inovar. Nada de entrar na igreja sob os acordes da trilha sonora do Titanic, casar de vermelho e decorar a igreja com cactus. Você não está numa passarela do Dolce & Gabanna, está na capelinha da sua paróquia: Mendelssohn, velas, copos-de-leite e uma boa Ave-Maria na saída, quer coisa mais chique e inatacável?

Se eu tivesse casado na igreja seria a mais convencional das noivas. Só uma coisa eu tentaria mudar, ainda que levasse um sonoro não: o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até os fins dos seus dias?" Nossa, não é tempo demais? Bonito, mas dramático. Os noivos saem da igreja com uma argola de ouro no dedo e uma bola de chumbo nos pés. Seria mais alegre e romântico um discurso assim:

Ela: "Prometo nunca sair da cama sem antes dar bom-dia, deixar você ver os jogos de futebol na tevê sem reclamar, ter paciência para ouvir você falar dos problemas do escritório, ter arroz e feijão todo dia no cardápio, acompanhar você nas caminhadas matinais de sábado, deixá-lo em silêncio quando estiver de mau humor, dançar só pra você, fazer massagens quando você estiver cansado, rir das suas piadas, apoiá-lo nas suas decisões e tirar o batom antes ser beijada".

Ele: "Prometo deixar você sentar na janelinha do avião, emprestar aquele blusão que você adora, não reclamar quando você ficar quarenta minutos no telefone com uma amiga, provar a comida tailandesa que você preparou, abrir um champanhe no final de tarde de domingo, assistir junto o capítulo final da novela, ouvir seus argumentos, respeitar sua sensibilidade, não ter vergonha de chorar na sua frente, dividir vitórias e derrotas e passar todos os Natais do seu lado".

Sim, sim, sim!!!

ENTRE AMIGOS



Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. 

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. 

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos. 

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. 

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. 

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. 

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. 

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. 

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. 

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. 

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.


AS RAZÕES QUE O AMOR DESCONHECE



   Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes do Woody Allen, do Hal Hartley e do Tarantino, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem namorado? 

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do Cupido do que por uma ficha limpa. 

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele adora o Planet Hemp, que você não suporta. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, mas você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, ele adora animais, ele escreve poemas. Por que você ama esse cara? Não pergunte pra mim. 

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou murchar, você levou-a para conhecer sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de MPB, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano-Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. 

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são referências, só. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo o que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas só o seu amor consegue ser do jeito que ele é.

O amor não acaba, nós é que mudamos

   Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba? 

O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos. 

Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito. 

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

A ESCOLA DOS BICHOS



  
Conta-se que vários bichos decidiram fundar uma escola. Para isso reuniram-se e começaram a escolher as disciplinas.
O Pássaro insistiu para que houvesse aulas de
vôo. O Esquilo achou que a subida perpendicular em árvores era fundamental. E o Coelho queria de qualquer jeito que a corrida fosse incluída.
E assim foi feito, incluíram tudo, mas...
cometeram um grande erro. Insistiram para que todos os bichos praticassem todos os cursos oferecidos.
O Coelho foi magnífico na corrida, ninguém corria como ele. Mas queriam ensiná-lo a voar.
Colocaram-no numa árvore e disseram: "Voa,
Coelho". Ele saltou lá de cima e "pluft"...
coitadinho! Quebrou as pernas. O Coelho não
aprendeu a voar e acabou sem poder correr também.
O Pássaro voava como nenhum outro, mas o
obrigaram a cavar buracos como uma topeira.
Quebrou o bico e as asas, e depois não conseguia voar tão bem, e nem mais cavar buracos.
SABE DE UMA COISA?
Todos nós somos diferentes uns dos outros e cada um tem uma ou mais qualidades próprias dadas por DEUS.
Não podemos exigir ou forçar para que as
outras pessoas sejam parecidas conosco ou tenham nossas qualidades.
Se assim agirmos, acabaremos fazendo com que elas sofram, e no final, elas poderão não ser o que queríamos que fossem e ainda pior, elas poderão não mais fazer o que faziam bem feito.
RESPEITAR AS DIFERENÇAS É AMAR AS PESSOAS COMO ELAS SÃO.

A GRANDEZA DO MAR



Paulo Roberto Gaefke(No livro "Quando é preciso Viver" página 29)
Você sabe por que o mar é tão grande?
Tão imenso? Tão poderoso?
É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros
abaixo de todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande. 
Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios,
não seria mar, mas sim uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e estaria isolado.
A perda faz parte.
A queda faz parte.
A morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente.
Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber viver.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará.

Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder.
E isto você já sabe.
Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade
o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, 
a vida e a morte.
Extraído do site: Meu Anjo

A TIGELA DE MADEIRA





Um senhor de idade foi morar com seu  filho, nora e o netinho de
quatro anos de idade.
As mãos do velho eram trêmulas, sua visão embaçada e seus passos
vacilantes.
A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão
falha do avô o atrapalhavam na hora de comer.
Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão.
Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha da mesa.
O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.
- Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai - disse
o filho.
- Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente
comendo com a boca aberta e comida pelo chão.
Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da
cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia
as refeições à mesa, com satisfação.
Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora
era servida numa tigela de madeira.
Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes
ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que
lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou 
comida cair ao chão.
O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio.
Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu  que o filho pequeno
estava no chão, manuseando pedaços de madeira.
Ele perguntou delicadamente à criança:
- O que você está fazendo?
O menino respondeu docemente:
- Oh, estou fazendo uma tigela para você  e mamãe comerem,
quando eu crescer.
O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho.
Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles
ficaram mudos.
Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava
ser feito.
Naquela noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente
conduziu-o à mesa da família.
Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as
refeições com a família.
E por alguma razão, o marido e a esposa  não se importavam mais
quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.

Cláudio Seto

A VIDA É O TREM QUE PASSA



A vida é o trem que passa
Os sonhos são vagões
O amor é o maquinista
Somos nós, a estação!
 
Adquira seu bilhete, faça sua escolha
O trem vai seguindo continuadamente
Em cada vagão, o desejo de sua mente
...há também tristezas, desilusões
Com a passagem na mão, escolha!
 
A viagem, se longa não sabemos
A bagagem é cada dia vivenciada
Mudar o rumo, podemos
Sem mesmo saber da parada
 
A estação nunca pode estar vazia
Será sempre um passeio viver
Se sentar na janela, aprecie
Tudo é passagem, algo pode reter
 
Cada dia que passa é contagem regressiva
Viaje como se cada instante fosse único
Cada olhar como se fosse o último
 
Respire fundo, o caminho é longo
Encontrará adversidades
...tristezas
...saudades
...abismos
...retas
.curvas
inúmeras serão as vezes
que não veremos o que há além da curva
Mas o percurso seguirá sonhando
 
A vida é uma viagem
Somos mutantes
Somos passageiros
Somos nuvens
Somos fumaça
 
Por não saber decifrar o mapa da vida
Algumas vezes nos  perderemos no trajeto
Mas, para quem sonha, nada é impossível
nunca se perde, sempre se encontra
 
Escute, ouça, é o apito de mais uma partida
Poderá estar partindo para novos lugares
sem roteiros
sem destino
sem poente ou nascente
A direção é para a felicidade
Conduzirá e será conduzido
O maquinista sempre atento
na história, na vida
 
De tudo que viver, uma coisa é certa:
Não se canse da viagem, prossiga
Lute, grite, implore
Mas não desista
...se cansar, acene, sorria
O maquinista não te deixará
Não hesite, não tema
Onde parar, um coração
certamente o acalentará
 
A viagem prossegue
...e sabendo onde quer ir
Vá seguro, você consegue
Sabendo sempre que vai valente...
sua viagem será eternamente...
no vagão de primeira classe.
Marillena S. Ribeiro

Se amar fosse fácil


Se amar fosse fácil,
Não haveria tanta gente amando mal, 
Nem tanta gente mal amada. 

Se amar fosse fácil, 
Não haveria tanta fome, 
Nem tantas guerras, 
Nem gente sem sobrenome. 

Se amar fosse fácil, 
Não haveria crianças nas ruas sem ter ninguém, 
Nem haveria orfanatos, 
Porque as famílias serenas adotariam mais filhos, 
Não haveria filhos mal concebidos, 
Nem esposas mal amadas. 

Se amar fosse fácil, 
Não haveria assaltantes 
E as mulheres gestantes não tirariam seu feto, 
Nem haveria assassinos, 
Nem preços exorbitantes 
Nem os que ganham demais, 
Nem os que ganham de menos. 
Se amar fosse fácil, 
Nem soldados haveria, 
Pois ninguém agrediria, 
No máximo, ajudariam no combate ao cão feroz. 

Mas, o amor é sentimento que depende de um "eu quero", seguido de um "eu espero"
E a vontade é rebelde, o homem, 
Um egoísta que maximiza seu "eu".
Por isso, o amor é difícil. 
Mas, não se ama por ser fácil, 
Ama-se porque é preciso!

Um dia...



                                                 
Um dia, descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia, nós percebemos que as mulheres têm extinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer...
Um dia, descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia, percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia, percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia, saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom...
Um dia, percebemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia, saberemos a importância da frase: "tu se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia, perceberemos que somos muito importantes para alguém mas não damos valor a isso...
Um dia, perceberemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais...
Enfim, um dia, descobriremos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Texto enviado por Carla Bender, do Rio Grande do Sul.
"Todos estes que estão aí
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
E eu passarinho...."

(Mário Quintana)

A vida que pediu a Deus



Se fosse feita uma enquete nas ruas com a pergunta: "Você tem a vida que pediu a Deus?", a maioria responderia com um sonoro "quá quá quá".
Lógico que alguém desempregado, doente ou que tenha sido vítima de uma tragédia pessoal não estará muito entusiasmado. 
Mas mesmo os que teriam motivos para estar (aqueles que possuem emprego, saúde e alguma relação afetiva, que é considerada a tríade da felicidade) também não têm achado muita graça na vida. 
O mundo é habitado por pessoas frustradas com o próprio trabalho, pessoas que não estão satisfeitas com o relacionamento que construíram, pessoas saudosas de velhos amores, pessoas que gostariam de estar morando em outro lugar, pessoas que se julgam injustiçadas pelo destino, pessoas que não agüentam mais viver com o dinheiro contado, pessoas que gostariam de ter uma vida social mais agitada, pessoas que prefeririam ter um corpo mais em forma, enfim, os exemplos se amontoam. 
Se formos espiar pelo buraco da fechadura de cada um, descobriremos que estão todos relativamente bem, mas poderiam estar melhor. 
Por que não estão? Ora, a culpa é do governo, do papa, da sociedade, do capitalismo, da mídia, do inferno zodiacal, dos carboidratos, dos hormônios e demais bodes expiatórios dos nossos infernizantes dilemas. A culpa é de tudo e de todos, menos nossa. 
Um amigo meu, psiquiatra, costuma dizer uma frase atordoante. Ele acredita que todas as pessoas possuem a vida que desejam. Podem até não estar satisfeitas, mas vivem exatamente do jeito que acham que devem. Ninguém as força a nada, nem o governo, nem o Papa, nem a mídia. A gente tem a vida que pediu, sim. Se ela não está boa, quem nos impede de buscar outras opções? 
Quase subo pelas paredes quando entro neste papo com ele porque respeito muito as fraquezas humanas. Sei como é difícil interromper uma trajetória de anos e arriscar-se no desconhecido. Reconheço os diversos fatores - família, amigos, opinião alheia - que nos conduzem ao acomodamento. 
Por outro lado, sei que este meu amigo está certo. Somos os roteiristas da nossa própria história, podemos dar o final que quisermos para nossas cenas. Mas temos que querer de verdade. Querer pra valer. É este o esforço que nos falta. 
A mulher que diz que adoraria se separar mas não o faz por causa dos filhos, no fundo não quer se separar. O homem que diz que adoraria ganhar a vida em outra atividade, mas já não é jovem para experimentar, no fundo não quer tentar mais nada. 
É lá no fundo que estão as razões verdadeiras que levam as pessoas a mudarem ou a manterem as coisas como estão. É lá no fundo que os desejos e as necessidades se confrontam. Em vez de nos queixarmos, ganharíamos mais se nadássemos até lá embaixo para trazer a verdade à tona. E então deixar de sofrer. 

Autoria de Martha Medeiros

O poder do silêncio

Pense em alguém que seja poderoso.
Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha e silencia, como um lobo? 
Lobos não gritam. 
Eles têm a aura de força e poder. 
Observam em silêncio. 
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio. 
Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas. 
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. 
Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. 
Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota. 
Olhe. 
Sorria. 
Silencie. 
Vá em frente. 
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. 
Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso. 
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques. 
Não é verdade! 
Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que reagir. 
Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal. 
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça. 
Você pode escolher o silêncio. 
Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu um pensador grego, mais de 300 anos antes de Cristo, ao afirmar: 
"Me arrependo de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio".
Responda com o silêncio, quando for necessário. 
Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. 
Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas.
E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

Autoria de Aldo Novak         

A verdadeira riqueza do ser humano

    Um dia um homem que acreditava na vida após a morte, e que valorizava o ser mais que o ter, hospedou-se na bela mansão de um materialista convicto, que só pensava em dinheiro. 

Depois da ceia, o anfitrião convidou o hóspede para visitar sua galeria de quadros e começou a enaltecer os seus bens materiais! 

Falou que o homem vale pelo que tem, pelo patrimônio que consegue acumular. Exibiu escrituras, jóias, ouro, títulos... 

Depois de ouvir tudo calmamente, o hóspede falou da sua convicção de que os bens da terra não nos pertencem de fato, e que mais cedo ou mais tarde teremos que deixar tudo aqui. Argumentou que os verdadeiros valores são o afeto, o conhecimento e não as posses que são sempre passageiras. 

No entanto, o materialista falou com arrogância que aquilo era dele e ninguém ia tirar! 

Diante da teimosia, o hóspede propôs um acordo: que voltassem a falar do assunto daqui a cinqüenta anos... - Ora, disse o dono da casa, daqui a cinqüenta anos nós já não estaremos mais aqui... 

O hóspede respondeu : - Assim você entenderá que tudo isso passou pelas suas mãos mas, na verdade, nada disso lhe pertence de fato. Vai chegar um dia em que você terá que deixar tudo aqui e partir, levando somente a sua evolução espiritual. 

Só então poderá avaliar se é verdadeiramente rico ou não. 

O materialista, contemplando as suas obras de arte, pela primeira vez sentiu uma sombra de dúvida... - que diferença fará, daqui a cem anos, se você morou em uma mansão ou numa casa simples? - se comprou roupas em lojas sofisticadas ou num magazine? - se bebeu em taças de cristal ou numa de vidro? - se comeu em pratos finos ou numa louça simples? - que diferença isso fará daqui a cem anos? Absolutamente nenhuma ! 

No entanto, o que você fizer do seu tempo na terra, fará muita diferença em sua vida, não só daqui a cem anos, mas por toda a eternidade. 
Você será mais feliz hoje! 


   

Carta de despedida para Maria



                                                                     Este texto é para Maria ler depois da minha morte que, segundo meus cálculos, não deve demorar muito. É uma declaração de amor.

Não tenho pressa em morrer, assim como não tenho pressa em terminar esta carta. 
Uma carta para Maria tem que ter todos os cuidados. 
Não quero que ela fique triste; quero fazer dela também um pedaço de vida pela via de lembrança que é a nossa eternidade. 
Nos conhecemos em 1970. Havia uma clima de medo nada propício para o amor.
Mas, tínhamos que começar o namoro de alguma forma... 
Foi no ônibus da vila das belezas, em São Paulo. 
Saímos em direção ao fim da linha como quem busca um começo. E aí, veio o primeiro beijo, sem jeito, espremido, mas gostoso, um beijo público. 
Nosso amor era muito mais forte que qualquer ideologia. 
Fomos viver em um quarto e cozinha, minúsculos, perto da igreja da Penha. 
No lugar cabia nossa cama, uma mesinha, coisas de cozinha e nada mais. 
Mas como fizemos amor naquele tempo! Foi incrível e seguramente nunca tivemos tanto prazer. 
Até que tudo começou a "cair". Prisões, torturas, polícia por toda a parte, o inferno na nossa frente. 
Fomos para o Chile. 
Depois, passamos por muita coisa. Até que a anistia chegou e nos surpreendeu. E agora, o que fazer com o Brasil? 
Foi um turbilhão de emoções: o sonho virou realidade! 
Era verdade! O Brasil era nosso de novo. 
A primeira coisa foi comer tudo que não havíamos comido no exílio: feijoada, angu com galinha, quiabo com carne... Um reencontro com o Brasil pela boca. 
Uma das maiores emoções da minha vida foi ver o Henrique surgindo de dentro de você. Emoção sem fim e sem limite.
Depois do exílio, nossas vidas pareciam bem normais. 
Mas, como uma tragédia que vem às cegas e entra pelas nossas vidas, estávamos diante do que nunca esperei: a Aids. 
Em 1985, surge a notícia da epidemia que atingia homossexuais, drogados e hemofílicos. 
O pânico foi geral. Eu, é claro, havia entrado nessa. 
E você, mais do que nunca, revelou que é capaz de superar a tragédia, sofrendo, mas enfrentando tudo e com um grande carinho e cuidado. 
A Aids selou um amor mais forte e mais definitivo porque desafia tudo, o medo, a tentação do desespero, o desânimo diante do futuro. 
Assumi publicamente minha condição de soropositivo e você me acompanhou. Nunca pôs um "senão".
Deu a mão e seguiu junto como se fosse metade de mim... inseparável. 
E foi um dos maiores problemas da Aids é o sexo. Ter relações com todos os cuidados ou não ter? 
Passamos por todas as fases, desde o sexo com uma ou duas camisinhas até sexo nenhum, só carinho. 
Preferi a segurança total ao mínimo risco. 
Parei, paramos e sem dramas, com carências, mas sem dramas, como se fosse normal viver contrariando tudo que aprendemos como homem e mulher... 
Viver é muito mais que fazer sexo. 
Mas, para se viver isso, é necessário que Maria também sinta assim e seja capaz dessa metamorfose como foi. 
Irei ao meu enterro sem grandes penas e principalmente sem trabalho, carregado. Não tenho curiosidade para saber quando, mas sei que não demora muito. 
Quero morrer em paz, na cama, sem dor, com Maria do meu lado e sem muitos amigos, porque a morte não é ocasião para se chorar, mas para celebrar um fim, uma história. 
Tenho muita pena das pessoas que morrem sozinhas ou mal acompanhadas. É morrer muitas vezes em uma só. 
Te amo para sempre, 
Betinho.
                                                                                  

Ter esperança

   Conta-se a história de um homem que percebeu que estava lentamente perdendo a memória. Ele foi a um médico e, após um exame cuidadoso, este lhe disse que uma cirurgia no cérebro poderia reverter a situação e fazê-lo recuperar a memória. 

                                                                                                                  


- No entanto, - disse o médico - você precisa compreender que a cirurgia é muito delicada. Se um nervo for lesado, isso poderá resultar em cegueira total.
Um silêncio profundo encheu a sala. 

- O que você prefere conservar - perguntou o cirurgião, tentando quebrar o incômodo silêncio -, a visão ou a sua memória? O homem ponderou sobre suas alternativas por alguns momentos e então respondeu. 

- A visão, porque eu prefiro ver para onde estou indo, a lembrar onde já estive. 

Esse mesmo raciocínio é endossado pela pessoa que entende como a vida está passando rapidamente e que,para sobreviver e prosperar, ela precisa deixar o passado para trás. Você pode não esquecer o seu passado, mas não precisa viver nele. 

O passado é um assunto morto e não podemos ganhar impulso para nos mover em direção ao amanhã se estivermos arrastando o passado atrás de nós. Por mais importante que seja o seu passado, ele não é tão importante quanto o caminho que você vê e prepara para o futuro. 

Nossos esforços, portanto, devem se concentrar na tarefa de aguçar nossa visão e não salvar nossa memória. 

Você consegue hoje lembrar-se do que fazia exatamente há um ano? Sobre o que você estava falando? Você estava zangado ou feliz, ansioso ou confiante? Pode ser que você guarde a vívida lembrança de algo dramático que tenha ocorrido. Para a maioria de nós, porém,o que nos preocupava naquele dia ficou nebuloso ou já desapareceu da nossa memória consciente. 

Quando não temos esperança no futuro, continuamos obcecados com o passado e reféns do fatalismo, sem força para viver o dia de hoje. (Texto de Daniel C. Luz) 

Ter esperança não quer dizer evitar ou ser capaz de ignorar o passado de sofrimento. Na verdade, a esperança nasce no aprendizado com o passado. O fundamento de nossa esperança é acreditar que algo melhor irá acontecer. É crer que hoje é o primeiro dia do restante de sua vida.